Lenia: História de Origem

Lenia era tomada por uma curiosidade mórbida, afinal, a cada passo que dava tinha uma sensação de mal estar. Era como se algum mau presságio estivesse tomando conta de seu corpo. Ela deu mais alguns passos, tomando cuidado com o assoalho trincado ao lado de um dos maiores pesos jogados no chão. Uma caixa quebrada guardava algumas peças de roupas velhas. Na parede havia um quadro rasgado, com a foto de uma família, mas era antigo demais e dificilmente retrataria o atual morador. Havia também uma dupla de espadas cruzadas num escudo, ambos enferrujados pelo clima úmido e mofado daquele ambiente. Foi então que ela encontrou, logo abaixo da janela, outro criado mudo. Nele havia uma gaveta trancada à chave, mas o que chamara ainda mais a atenção da ladina era uma pequena caixa de madeira com a tampa desconexa. Ela a retirou com extrema facilidade e cautela, revelando um pacote completo com vinte frascos de remédios em perfeito estado.

Lenia encarou os vinte frascos que estavam em perfeito estado e cuidadosamente os guardou em meio aos seus pertences. Aquela quantidade lhe renderia um bom valor. Foi então que ela voltou sua atenção para a misteriosa gaveta do criado mudo. Seus dedos laçaram a alça de madeira, curvada com entalhes elegantes nas pontas. Lenia fez força mas ela prendeu, de fato estava trancada, havia uma fechadura no canto esquerdo, era cinza, feita de ferro, parecia muito resistente. Foi então que ela, em sua tentativa de forçar a gaveta, ouviu o som de passos pesados ecoando no andar debaixo, alguém vinha ai...

Lenia percebeu a situação perigosa e decidiu abandonar o local apenas com os frascos. Ela deixou a gaveta e seguiu caminhando pelo terceiro andar na direção da escada. Ela passou por todo o cômodo aberto até perceber com o canto dos olhos o que parecia ser um alçapão para um quarto no andar debaixo, a menos de dois metros. Para o seu azar, antes que pudesse decidir acessá-lo, os degraus da escada começaram a ranger. A silhueta do enorme homem, ou melhor, homem-peixe, pois ela percebeu o tom esverdeado de sua pele refletindo a pouca luz que vinha da janela sobre o criado mudo no outro lado do cômodo. A Janela sempre fica fechada, para que insetos não entrem ele disse, estalando os dedos e revelando suas presas afiadas. Ele estava a cinco metros de Lenia.

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Lenia já havia encontrado uma possível rota de fuga à poucos instantes, era o tal alçapão que muito provavelmente a levaria para um quarto no andar debaixo, alternativamente ela pensou na ideia de saltar pela janela que estava nos fundos do andar atrás de si, mas parecia loucura. O brutamontes que a encarava então estalou os dedos, notando a arrogância de sua resposta, mas sem partir para o ataque ainda. Mas o inseto deveria se certificar, de que não está caindo na teia do mal ele respondeu, poeticamente tentando contrariar a fala cheia de si que Lenia havia proferido.

HP: ? EP: ? PO: ?

Rápida como uma raposa, Lenia deu uma cambalhota para a esquerda. Ela se aproximou do alçapão e o abriu violentamente, fazendo a tampa bater contra a parede ao lado. Sem hesitar, ela derrubou o corpo em direção à escada, saltando para o andar debaixo. O brutamontes a encarou e no instante em que ela desceu, se pôs a seguíla, mas sem a ousadia de pular o andar inteiro, ele parou no topo do alçapão e se preparou para descer. Lenia encarou o quarto e encontrou uma única porta para sair dali, mas antes se distraiu com a quantidade de caixas e móveis cobertos por panos e lençóis. Parecia um cômodo esquecido pelos antigos moradores.

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Lenia correu. Ela saltou por cima de uma caixa e se esquivou de um móvel que claramente era uma estante coberta para então encontrar a porta diante de seus olhos. Ela agarrou a maçaneta e a puxou, apenas para revelar uma tranca fina, composta por uma pequena corrente que estava presa no batente da porta. Para sua sorte, o empurrão foi tão forte que a madeira da porta quase era arrancada, dando o espaço de quase vinte centímetros para passar. Foi então que ela ouviu o som dos pés pesados do brutamontes acertando o chão, após saltar da metade da escada.

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A força não era exatamente o ponto positivo nos atributos de Lenia, ainda assim ela encontrou forças em sua adrenalina e com ambas as mãos criou espaço entre moldura e porta. A madeira se curvou, forçou ao máximo que pôde até que finalmente a corrente venceu, estilhaçando em farpas minúsculas o batente que dava apoio para a tranca metálica. Lenia saiu corredor afora, encontrando à sua direita a janela que usara para entrar e três metros à esquerda a escadaria para o primeiro, ou terceiro andar.

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Lenia tinha uma grande vantagem e era a sua velocidade. Sem hesitar ela correu pelo corredor, saltando pela janela que havia sido deixada aberta, e, reconhecendo o ambiente aterrissou com cuidado sobre a mureta a dois metros abaixo da janela. O brutamontes surgiu na janela logo depois, ele encarava a garota com desprezo em seu olhar.   Vai me pagar por isso! ele a amaldiçoou como pôde, incapaz de saltar daquela altura, gravou  bem o rosto de Lenia, que saltou muro abaixo e deu de cara com um beco entre duas casas, livre de seu perseguidor...

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Lenia deixou o bairro debaixo, seguiu pelo beco até onde podia até finalmente se revelar de novo em uma rua movimentada. Saiu como se nada tivesse acontecido e se pôs a caminhar entre os civis. Subindo mais um lance de degraus, entre duas casas, até chegar no mercado. Lá, ela foi direto até a loja de Jerome, que estava a esperando em frente a porta. Ele segurava um canivete que usava para limpar as unhas, quando a viu, abriu um sorriso.

Lenia se anunciou, enaltecendo suas habilidades o que fez o comerciante bater palmas, levemente, mas apenas duas. Ele concordou com a cabeça quando ela rogou que não tivessem a seguido.. E eu também! ele confirmou, esfregando as mãos e fazendo um gesto com o nariz, apontando para sua mochila no aguardo do pacote recuperado.   E então, onde está? ele perguntou, ansioso pela aquisição.