Tristan: História de Origem - Concluído

Era manhã, Tristan se sentava na fileira da parede oeste, onde ficava a janela. Dali da universidade dava para ver o mar, assim como a praia e o caís onde seu amigo James trabalhava. O som das gaivotas e das ondas quebrando na costa, os sinos das embarcações e o murmurinho da rua comercial ecoando ao longe eram ameaças para o foco da jovem donzela.

Eis que o som estridente da régua de seu professor ecoava, batendo contra a lousa conforme chamava a atenção da estudante distraída.

— Fico feliz que esteja se sentindo confiante para não prestar atenção na aula, agora, por favor senhorita Tristan, pode dizer aos seus colegas os principais sistemas orgânicos do corpo humano? — e então todos os colegas encaravam Tristan.

Tristan investigava com cuidado o pirata ferido, cujo estado era deplorável. Sua camisa rasgada revelava um corpo marcado por vários cortes profundos, evidenciando uma luta intensa. Uma lâmina estava cravada em seu estômago, e uma notável corrosão na ferida indicava algum tipo de envenenamento. O pirata gemia de dor, com a respiração pesada e febril. Com determinação, Tristan sabia que precisava agir rapidamente para estancar as feridas do pirata e, posteriormente, tratar o envenenamento.

Tristan estava diante de uma aula prática daquilo que havia estudado o ano inteiro. Gradativamente seu rosto se transformou, a deixando mais séria e focada. Segurando as mãos do pirata, ela a imobilizou sobre seu próprio tórax, removendo a camisa branca, agora completamente vermelha por conta do sangue, de seu peito. A camiseta estava quase colada por conta do sangue seco. Foi então que ela se sentou sobre o corpo quase morto para evitar suas convulsões, e, com um movimento preciso ela removeu a lâmina estilhaçada do corpo do pirata que se contorceu enquanto gemia de dor, porém, a remoção havia sido rápida e aparentemente evitou maiores complicações.

Tristan, depois de estabilizar o pirata, olhou ao redor e começou a reparar na floresta. Esta se estendia densamente à sua frente, com árvores altas e exuberantes, com as copas entrelaçadas. O chão estava coberto por uma mistura de folhas, galhos e plantas de todos os tipos, criando uma atmosfera vibrante. Diante dela, Tristan se deparava com duas opções: poderia sair em busca de recursos naturais na floresta que pudessem ajudar o pirata, aproveitando o ambiente rico em flora e fauna, ou optar por seguir até a cidade mais próxima em busca de remédios ou ajuda externa.

Tristan, decidida a salvar aquela vida, levantou-se e começou a correr determinadamente em direção à cidade. A floresta, ligada à praia e às extremidades da cidade, apresentava um caminho acessível. No entanto, à medida que se afastava do lago e do pirata, deparou-se com a silhueta imponente de um urso enorme vindo em sua direção a cerca de vinte metros adiante.

Tristan, temendo pelo pior, toma uma postura mais cautelosa e começa a se esgueirar pelos cantos, se afastando da estrada e seguindo pela mata, investindo pelo lado escuro. Entretanto, no instante em que ela passa pelo primeiro arbusto ela pisa em um graveto que estala, ecoando pela floresta. O urso ruge e olha na direção de Tristan, preparando sua investida.

Tristan se move sorrateiramente pelos cantos da mata, tentando contornar o urso a fim de evitar o confronto. O animal segue avançando na sua direção, mais ou menos exatamente onde estava. Foi então que ao passar por um arbusto, uma falha na vegetação a fez entrar em contato visual direto com a besta, a menos de oito metros de onde estava.

Tristan, confrontada com o urso, não hesitou e optou por correr desesperadamente em direção ao vilarejo. Ela adentrou a floresta com vigor, percorrendo trilhas e gramados, pulando arbustos e descendo barrancos, enquanto o urso a perseguia com rugidos ameaçadores. Após quase dez minutos frenéticos, começou a ouvir os sons da civilização, e, percebendo a presença humana, o animal recuou, desacelerando. Tristan finalmente emergiu nas ruas ladrilhadas da cidade portuária, encontrando a segurança das áreas urbanas.

Tristan, após a fuga angustiante do urso, finalmente alcançou a segurança do centro da cidade. Seu corpo ainda pulsava com a adrenalina, mas a determinação em encontrar ajuda para o misterioso pirata ferido superava qualquer cansaço. Com pernas trêmulas, ela navegou pelas ruas movimentadas do vilarejo até se deparar com uma modesta loja, exalando o aroma característico de ervas medicinais. A fachada indicava que ali poderia ser uma farmácia ou um estabelecimento especializado em remédios naturais.

Tristan invadia a loja de ervas se deparando com um velho senhor de idade, que surpreso pela invasão se levantava num susto. As palavras ofegantes de Tristan tentavam transmitir uma mensagem, a qual o velho demorava um pouco para captar. Assustado ele levantava a aba do balcão para se aproximar de Tristan, questionando ela quando finalmente se aproximou: "Como assim? O que houve?"

O velho ainda sem reação balançava a cabeça negativamente, se afastando um pouco. Ele estava assustado e parecia não compreender a situação, e, acima de tudo, como aquilo se relacionava a ele. Ele ergue as mãos, revelando a palma delas, num gesto de apaziguação, enquanto gentilmente explicava "Espere, espere! Mas que homem é esse? Olha, eu tenho remédios aqui se quiser levar, mas não posso abandonar a loja!"