Jeanne: História de Origem

Por que ele sorria naquela situação? Eu não entendia agora, mas futuramente compreenderia que era por ele ao menos poder me ver uma última vez antes de partir.

Um silêncio tortuoso se manteve enquanto sentia seu toque gélido em minha face. Olhei para onde ele apontou sem entender porra nenhuma. Ajudar? Ajuda? De quem diabos ele falava? A dor era tanta que ele estava delirando ou eu era estupida demais pra entender?

Seja o que fosse, não conseguia me focar no que ele queria, somente em sua expressão que ia perdendo a vida conforme suas energias vitais iam se esvaindo, até que finalmente o pior acontecia. Seus olhos se fechavam e seu corpo pendiam pro lado de vez.

Chocada, fiquei sem reação a principio. Meus braços tremiam e só não derrubei a arma porquê a bandoleira se segurou em meu corpo.

— Pa... Pai.


Não sabia o que sentia, se não um vazio muito grande e uma dor imensurável. Olhava para seu corpo caído e, ainda ficava meio sem acreditar. Começa a empurrar seu dorso tentando chama-lo.

— Hey pai. Pare com isso, por favor. — Sem resposta. — É sério, está começando me assustar. — A respiração ficava oscilante, além de gagejar bastante nas palavras. — Pa-pa-pai, va-vamos. Me-me chame de-de, Anni-ninha. Você sabe qu-e eu-eu odeio que me cha-chamem, a-assim.

Não havia qualquer reação de meu pai. Não conseguia conter as lágrimas que iam deslizando por meu rosto.

Hesitante, me encolhi abraçando seu corpo e com o rosto esfregando em seu peito, gritava um choro abafado pelo contato.

— AAAhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Alguns segundos se passavam. A necessidade de respirar fundo me obrigava a me erguer. Olhava para seu corpo caído e repetia o gesto ao passar a mão em seu rosto com um certo pesar, querendo dizer muitas coisas que infelizmente não eram possíveis serem ditas.

A figura do chefe criminoso me veio a mente. Lembrava de alguns de seus ensinamentos, um em específico que fazia Dalton me olhar torto e aborrecido. Ao que tudo indicava eu teria que adaptar parte do que me foi passado.

— Eu volto logo. — Dizia dando um beijo na testa daquele que cuidou sozinho da filha, pois não fazia ideia de quem era a própria mãe.

Endureci meu coração. Olhei para a indicação de meu pai. Não entendia o que ele queria, mas bastava ir ver o que é que havia naquele chão.

Sem mais nenhuma hesitação, limpei as lágrimas do rosto primeiramente na manga da blusa que usava. Meu rosto ficou uma mescla de sujeira da fuligem e suor com áreas limpas pela roupa. Segui até o local e comecei a procurar o que meu pai queria.

Arma:

Esse mundo não era muito justo com as pessoas. Vidas perdidas por nada em tão pouco tempo e de forma rápida.

Segurava meu luto e ia deixando-o de lado. Precisava me focar em descobrir o que meu pai queria que eu visse. Observei o buraco e a cachoeira viscosa escorrer naquele orifício. Estreitei os olhos, questionativa.

— Você entregou sua vida por isso. Vamos ver do que se trata.

Ia removendo o excesso de sangue para tentar ver se conseguia olhar dentro. Após isso via se tinha algo que eu pudesse usar para quebrar  mais a fissura e expandir o buraco, caso houvesse algo para se pegar ali dentro. Nem que fosse necessário dar coronhadas com o Arcabuz.

Arma:

Quando vi que havia duas pessoas ali, estranhei bastante. Quase não acreditei em meus olhos.

Se entraram no buraco, tinha algum tipo de alçapão ou entrada oculta. Mas não me importa muito. Olhei pra mulher com um olhar de poucos amigos.

— Quem diabos são vocês?

Não que eu desconfia-se, mas era melhor confirmar o óbvio. Uma mulher e um bebê na casa de um homem solteiro que deu sua vida por esse esconderijo. Não duvidaria de nada.

— Responda logo, não tenho tempo a perder. E saia dai depressa.

Observaria se tivesse algo mais naquele local secreto.

Arma:

Estreitei os olhos meio irritada. Peguei no braço dela e puxei como dava para que ela saísse de lá.

— Você não respondeu minha pergunta. Quem é você? E quem é o pai dessa tangerina, aí...

Arma:

Não entendi bem, mas ao que parecia aquilo se abria com algum mecanismo. Não era de se estranhar alguma engenhoca vinda de meu pai. Contudo...

— Hã? — A mulher dava com os dentes na língua. — Meu pai morreu pra proteger a vadia de outro? — Apontei a arma em direção a mulher. — Cadê seu marido agora pra te salvar?

Intimidava com um olhar assassino. A seguir, direcionei os olhos para o tangerina.

— Tcs... Ainda cheguei a pensar que essa coisa fosse meu irmão. — Relaxava os músculos, tirando a mira. — Não sei os detalhes. Se teu marido é um marica ou já se virou manteiga de pirata, mas não vou desperdiçar o sacrifício do meu pai.

Dito isso, fui até o local indicado procurando por alguma coisa que pudesse liberar aquele esconderijo.

Arma:

Virei as costas e segui para o local indicado. Ao chegar, notei o ambiente bem mais arrumado do que imaginava que estivesse.

Olhei para os lados sem ter muita certeza do que fazer. Porém, a voz da mulher foi o gatilho que me guiou até a estante.

— Fale qualquer coisa, novamente.

Por meio do som iria descobrindo para onde ir. Já prevendo que a estante tinha alguma ligação com aquilo tudo, já ia me posicionando para puxar para trás o móvel, ou empurrar para o lado. Faria conforme fosse mais fácil, nem que precisasse remover alguns livros pra facilitar.

Arma:

A mulher revelava sua posição real e isso me ajudava a encontrar o lugar correto.

Estante removida e placa retirada, a passagem estava liberada para a mulher que não parava de falar. Dei de ombros para o comentário aleatório

"Hein? Eu achava que eu era burra, mas essa dai deve ta se fazendo ou é realmente muito estúpida. Será que não ouviu nada do que eu falei? Que idiota."

— Meu pai? Ah sim, vamos até ele. Acho que você vai querer agradecer o velhote por tudo que ele fez.

O sarcasmo não ia ser notado até que ela descobrisse a verdade. Acho que ela nem lembraria da minha ironia quando tivesse a visão do cadáver, dele.

— Ele está no outro cômodo.

Segui atrás da criadora de tangerina. Pode ser muita maldade em meu coração, mas será interessante ver a reação dela.

Arma:

A maturidade da mulher superava a minha má conduta com ela. Mas quem disse que eu me importo?

Seguimos para até meu pai. Fiquei em silêncio respeitando ao menos esse momento de despedida.

Assim que ela me agradeceu e se virou para ir, fiz o mesmo indo logo atrás de sua sombra. Olhei para meu pai antes de sair e, disse:

— Perdoe-me velho, mas terei que fazer o que você me pediu para nunca realizar.

Infelizmente, não havia puxado a meu pai em questão de personalidade. O que tudo indicava que eu devia ser mais parecida com minha mãe que era um mistério.

Antes que cada uma seguisse por rotas diferente, chamei atenção da mulher.

— Hey, você. Espere... — Deixei que ela tornasse a olhar para mim. — Não cometa a burrice de ir procurar ajuda. Pode acabar encontrando o que não deve. As pessoas já foram todas capturadas ou mortas. Os que sobreviveram foram levados para um lugar qualquer pelo o que pude ver. Então faça o que eu digo, siga por essa rua que eu vim, depois vira aqui, e depois ali...

Ia explicando o percurso que eu fiz. até minha casa.

— Faça isso e irá chegar no lugar mais tranquilo da ilha sem trombar com nenhum perigo, pois o que tinha para destruir, os piratas destruiram. Não há nada lá e você pode se esconder facilmente na natureza. Porque lembre-se, diferente de mim, você ainda tem algo a perder. — Olhei cabisbaixo. — Tudo que eu posso fazer agora é não conter meu desejo de vingança. — Ergui o queixo com determinação. — Farei pagarem pelo que fizeram.

Não sei se toda aquela coragem vinha do meu pai ou da minha mãe, seja quem fosse, esperava ser o suficiente para encarar aquilo sem hesitar.

Arma:

A mulher seguia como explicado e Dalton surgia nesse instante. Trocaram breves palavras antes do marmanjo finalmente chegar.

— Não pode ver uma casada, né? — Descontraí.

As informações reveladas se mostravam valiosas. Já tínhamos uma noção de onde estavam e o que planejavam. Olhei para a direção indicada.

— Dalton... — Havia uma mansidão caótica em meu tom. — Nossa única missão é exterminar todos. Você conseguiu encontrar algum dos capangas do chefe?

O rapaz sabia que eu nunca tinha matado ninguém. Motivo disso era meu pai que havia colocado esse "cabresto" em minha consciência, mas que se extinguiu hoje com seu assassinato.

Havia uma mudança extraordinária em meu comportamento. Por mais que eu fosse mal encarada e judiasse das pessoas que o chefe queria, nunca havia ceifado vidas. Costumava somente fazer a segurança do mandante do tráfico.

— Não sei o que realmente querem ou vão fazer, porém sei que se livraram daqueles que não prestavam para seus interesses ou que se rebelaram. Meu pai deve ter sido um desses que não aceitou o destino imposto pelos invasores. — Comecei a me mover em direção a nosso objetivo. — Vamos, não temos mais tempo a perder.

Arma:

— Meu dedo já estava coçando para atirar em algum pirata.

Deu um certo ânimo saber que em breve entraria em confronto. Estava com sangue nos olhos, seria um combate cheio de ódio.

Chegamos em um ponto em que se podia ter visão de alguns meliantes. Observei os piratas e analisava cada um dos seis dispostos em seu respectivo grupo.

— É o seguinte... Estão em três vezes a mais o nosso número. E isso é problema algum. — Disse confiante. — Vou disparar em quem eu ver que está portando arma de fogo. Eles vão acabar sendo atraídos pelo barulho, por isso se esconda antes ali mais para frente e espere eles virem até o local do disparo e surpreenda eles pegando-os pelas costas enquanto eu irei alvejar outro alvo.

O plano era simples. Dalton se escondia em algum lugar mais a frente. Aguardava eu iniciar o combate. Os inimigos iriam querer buscar a origem do tiro para conter a ameaça. Dalton agiria a seguir após o primeiro contato do confronto. Eu continuaria alvejando. A chance de eliminar 3 pessoas em pouco tempo, era plausível. Depois disso tinha que se preocupar com outros três.

— Vamos.

Procurei ficar em um local elevado que me desse melhor ângulo no limite do meu alcance se possível. Manter a distância seria fundamental para minha tática de eliminar o máximo possível antes que pudessem me alcançar.

Escolhia meu alvo baseado em seu armamento. Se estivesse portando uma arma de fogo, seria selecionado como um dos primeiros a ser abatido. O tipo de arma também influenciava em minha decisão. Se houvesse calibres de grande porte, como a própria Arcabuz que portava, daria preferência a essas de longo alcance primeiro para eliminar uma ameaça continua e perigosa. Se não tivesse tal tipo de arma de fogo, focaria em quem tivesse calibres médios ou de menor porte. Não queria dar espaço para conseguirem me alcançar. Minha vantagem era o poder do meu rifle.

Dei uma última checada em Dalton para conferir se ele já estava aposto. "Mirei" na cabeça do alvo que seguia o perfil desejado e finalmente rompi o silêncio angustiante daquela noite.

Sem delongas, mudava de posição com minha "quebra de deslocamento" antes que me vissem. Além de recarregar a arma se necessário.

Rápido
Tipo: Vantagem
Descrição: Você pode quebrar seu deslocamento com sua ação padrão.

Arma: