Jeanne: História de Origem

Ai ai...

Os dias naquela terrinha esquecida pareciam ser mais longos do que o de costume. Às vezes só queria ser uma garota normal aproveitando o campo, deitando na grama verde, observando as nuvens passar e ouvir os pássaros cantar e aos poucos adormecer sob a sombra de uma árvore grande com folhas que caiam sob minha cabeça quando o vento soprava mais forte e derrubava algumas delas dos galhos.

Tudo aprecia um grande sonho naquela imensidão de paz na qual podia relaxar sem ninguém me incomodar. Entretanto...


Parece que o senhor paz não caminhava por essas terras.

— Grrrrrrrrrrrrr AHHHHHHHHH!!!! Desgraça do caralho. Num pode se ter mais um minuto de sossego. — Olhou para o dito cujo com uma cara emburrada. — Que é demonhooo!! Quer morrer??? Cuzão.

O cabeça de farinha vinha rápido para cima de mim, será que ele ia vir bater em mim? Não era de hoje que alguns me davam cascudos por me achar uma pirralha, mas eu mudei isso aos poucos quando causei dor a alguns deles. Portanto, fui puxando minha arma para me precaver.

Aguardei até o último instante, ia direcionando o cano do rifle para sua bunda. Contudo, algo me impedia de puxar o gatilho.

O cuzão me dava uma notícia de desanimar.

— Queeeeeeee? Para de mentir maldito, ou estouro seus miolos!

A arma era mirada de qualquer jeito contra a cabeça do homem que permanecia desconcertado de toda situação.

Percebi que nada resolveria e que pra ele ter vindo me infernizar aqui a essa hora com uma notícia de merda, devia ser porque ele tinha considerações por mim, ou sei lá.

— Tá, tá, tá, me solta imundo. Me conta isso direito. O que aconteceu com o traste pra ter morrido do nada? Aliás, aonde está o corpo?

Piratas em nossa ilha era algo quase inusitado de ousar pensar que aconteceria. Quem atacaria um lugar merda como esse?

— Hãããã? Piratas? O que esses filhos da puta pensam que são pra invadir minha ilha?

Aquilo me enfurecia, ter a paz interrompiada por causa de uns atoa que vieram fazer baderna na terra dos outros.

Já não bastava o problema da invasão, agora tinha que lidar com esse frouxo me dando sermão. É mole?

— Fecha essa matraca, seu pêla saco. Nosso ganha pão foi assassinado e você ta preocupado em como eu trato o cadáver putrefato dele? Me poupe, temos preocupações maiores que minha relação com o finado chefe.

De toda forma, Dalton tinha um ponto que eu não podia ignorar. Se os piratas continuassem o ataque e todo resto fosse morto, não teria mais grupo criminoso para se fortalecer e continuar com o tráfico. Além de um outro detalhe importante, meu próprio pai vivia na ilha. Se ele morresse, seria ainda pior.

Comecei a caminhar sem dizer um pio, cruzei por Dalton e depois de me afastar poucos metros, parei.

— O que está esperando, seu lerdo? Temos piratas para caçar. — Dizia puxando o ferrolho da arma. — Me mostre aonde estão os malditos. Irei acabar com todos eles.

Havia determinação na voz. Por mais que não demonstrasse empatia com o chefe, ainda sim a confiança de que uma boa batalha se daria inicio.

Aquele bunda mole podia ficar me olhando mal encarado o quanto fosse que nada ia mudar. Restava ir caçar os piratas de uma vez por todas. Se ele quisesse que resolvesse depois.

Seguimos até a cidade, o caos estava formado. Casas consumidas pelo fogo. Já não se podia mais fazer nada por elas. As residências utilizadas pelo tráfico era uma grande perda, muitos artigos guardados neles que daria um bom dinheiro. Infelizmente, perderíamos tudo, afinal, ou encara o inimigo ou morre tentando salvar o que restar dos imóveis.

— Hey grandão, fique atento, o show vai começar.

Procuraria por algum pirata que tivesse o estereótipo do chefe, ou seja, que tivesse trejeitos de quem mandava nas coisas, vulgo capitão do navio inimigo. Buscaria um local um pouco elevado para poder disparar a vontade.

Seja lá o local em que eu estivesse, ao definir um suposto líder inimigo, me manteria parada e firmaria uma mira. Alvo travado, puxaria o gatilho e dispararia o melhor que pudesse considerando o ambiente e o vento no alcance que minha arma proporcionava. Efetuado o disparo, deixaria meu Arcabuz pronto para um novo tiro.

Sabia que no instante que eu alvejasse os salafrários, os mesmos viriam com tudo para cima de nós, precisava eliminar o máximo possível de tolos antes que chegassem até aqui.

Arma:

— Tcs...

Esboçava um semblante desgostoso. Sabia que não alvejaria ninguém de onde estava. Olhou para o companheiro do crime e decidiu por seguir o sujeito.

— Sem diversão, bizonho? Tudo bem, vamos lá.

Ao que tudo indicava, seria um trajeto rápido que nos colocaria no coração da cidade ou coisa parecida. Só restava seguir o mais depressa possível.

Arma:

Aquela inquietude começava a me deixar de mal humor. Estreitei os olhos, tentei me conter, mas não deu.

— Ahhhh, que agonia é essa? Ta procurando o que, rapá!

Seria inútil minha ajuda se eu não soubesse o que ele buscava.

Saindo pela entrada, notei que aquela rua daria até a casa do meu pai. Como armeiro, o coroa sabia lidar bem com fogo e conte-lo, fora que estava sempre munido de armas e tinha uma pontaria que rivalizava com a minha, afinal, aprendi tudo que sei com ele. O que nos diferenciava era a minha juventude versus sua experiência.

— Hey, fimose. Da pra ir por aqui? Quero averiguar uma coisa.

Obviamente, eu desejava ir garantir que aquele tonto estava bem.

Arma:

No fim não era algo realmente tão importante, somente útil.

— Tendeu... Depois a gente encontra essa merda e explode o cu de quem roubou.

Tentei animar o bobão desanimado. Ver umas carcaças voando, mesmo que ele pensasse que eu estava brincando, era divertido, certo?

— Um plano? Isso, um plano é bom. É, faça isso... Mas pra que mesmo? — Esbocei uma cara de tonta, na hora.

Deixando isso de lado, segui juntamente a Dalton rumo a minha casa o mais breve possível.

Arma:

Revirava os olhos quando a voz do sujeito começava a me cansar.

"Meu senhor, ele não termina nunca?"

Falando mais que duas vizinhas em dia de fofoca, o homem só se calou quando o destino daquele trajeto, chegou. Percebi logo de cara a situação deplorável que os imóveis intocados pelo fogo, se encontravam.

— Tá bom fedorento, não vá morrer.

Um jeito amigável de dizer "boa sorte".

Minha atenção se voltou exclusivamente para minha casa. Em arma em punho, avancei com cautela até ela. Olharia com cuidado pelas janelas e qualquer outra fissura que desse visão para dentro de casa. Se não encontrasse nada, adentraria furtivamente procurando por algo ou alguém.

Arma:

Usaram espadas para arrombar portas, quanta imbecialidade, isso entortaria totalmente a lâmina e desgastaria o fio de corte.

Mas problema de quem fez isso, porque na hora que eu encontrar quem invadiu minha barbie house, não vai sobrar nada.

O som de dor vindo de cima chamava minha atenção. Olhei para a escada e avancei sem hesitar buscando encontrar o autor daquele barulho. Tomaria cuidado para não me expor. Havia possibilidade de haver mais de uma pessoa ali em cima.

Arma:

Minhas veias do rosto saltavam com a raiva que sentia. Tanto trabalho do coroa pra ser levado desse jeito.

— Miseráveis!

Segui a trilha de sangue. Aquilo estava me deixando ansiosa. Ouvia a voz do velhote quando percebi seus pedaços por toda parte. Arregalei os olhos, assustada.

— PAAI!

Qualquer cautela havia sumido. Vê-lo naquelas condições, era inimaginável. Corri em sua direção, ficando próxima do mesmo.

— O que aconteceu aqui? Quem fez isso contigo?

Sentia meu coração querer sair pelo peito de tão forte e acelerado que batia. Me senti uma criança novamente, mas uma que estava em uma situação que não deveria estar.

Enquanto ele falava, procurava pela casa alguma corda, toalha ou qualquer coisa que pudesse amarrar o toco decepado a fim de conter o sangramento.

Arma: