Laurent: História de Origem - Concluído

O bar estava agitado. As pessoas comemoravam e bebiam o sucesso do último show no vilarejo vizinho. O gerente Pruitt, dono de todo o circo bebia um pouco mais da conta. Laurent que estava mais perto da porta, numa mesa com outro colega de trabalho pensou que aquela noite seria a ideal para por um fim naquela fase da sua vida. O acampamento do circo era perto do bar, e, ele sabia que logo o gerente iria para sua tenda.

O rapaz se levantou e passou pela porta, deixando Oz para trás, ele seguiu caminhando sozinho pela noite e se deparou com o campo e as tendas do circo. Caminhando pelo campo de terra, Laurent sentiu o vento gélido em seu corpo, até parar diante da tenda do gerente Pruitt.

A viagem até o bar é breve. Laurent para diante de uma rua antiga, com casas velhas de uma arquitetura rústica. O bar tinha uma fachada de madeira, assim como sua porta. Só o simples ato de empurrar a porta era o suficiente para produzir um ranger que mais parecia um alerta de segurança máxima de tanto barulho. O bar era velho e tinha cheiro de salgadinho barato. Quatro ou cinco velhos estavam ali, bebendo e conversando. O barman era o mesmo de sempre, agora mais velho. Tinha um bigode pomposo e um cabelo engomado.

Laurent caminhou até o balcão, não interrompendo nenhuma das conversas paralelas que aconteciam ali. Era papo de velho. Noticias do jornal de mais cedo e fofocas sobre filhos e esposas. No instante em que Laurent se sentou e começou a falar, antes que pudesse finalizar seu pedido o dono do bar já havia batido a garrafa sobre a mesa e uma taça de vinho estava servida. "São 2 mil belly" e então ele continuou a limpar o balcão com seu olhar frio, rígido e ao mesmo tempo tranquilo e observador.

O dinheiro era colocado na bancada e ele já o arrastava para uma gaveta de seu caixa. Laurent degustava do bom vinho, que não era dos melhores mas também não era dos piores, apenas um bom vinho. Foi então que ele voltou a falar e no instante em que ele disse "Você" foi interrompido pelo atendente do bar - "Desde antes de você nascer" ele levantou a taça de Laurent e passou o pano por debaixo, retornando ao copo exatamente para onde estava. Neste momento o rapaz percebe que apesar do ambiente ser velho estava em perfeito estado, tudo limpo e brilhando sem resíduos de poeira.

O homem continuava a trabalhar incessantemente, limpando e polindo lugares que já o havia feito. Aquele homem misterioso estava sempre se movendo, gerindo a manutenção de seu estabelecimento. Por vezes aquilo tudo parecia só algum tipo de compulsão, ou talvez amor demasiado. Enquanto ele trabalhava, Laurent o fulminava com novas informações e explicava a sua própria presença no local. Um olhar penetrante o encarou. "Eu o conheci, então sim, sei coisas sobre ele" o homem respondeu de forma breve.

Conforme Laurent ia se explicando outro homem chegava ao bar. Ele vai até o balcão e pede por uma garrafa de cerveja e amendoins, depois se retira. O misterioso dono do bar parecia nunca perder o foco, mesmo enquanto se mantinha ativo no trabalho.

— O que quer saber? — ele indagou, objetificando o rumo daquela conversa. Ele não parecia do tipo que gostava de perder tempo com papo furado. Quando Laurent terminou de beber o primeiro copo, o segundo já estava servido sobre o balcão.

O homem ouvia atentamente as perguntas de Laurent, permitindo com que ele seguisse até o final, porém, antes de qualquer resposta, enquanto Laurent bebia ele ergueu a mão. Dois de seus dedos estavam erguidos, o indicador e o médio.

— Duas perguntas diferentes... Irei lhe responder a primeira como cortesia, porém... — ele abriu a gaveta debaixo do balcão, puxou uma arma com um tambor e o abriu, inserindo uma única capsula e girando. Ele bate com a arma em cima da mesa e empurra na direção de Laurent.

— Para qualquer resposta seguinte precisará puxar o gatilho em si mesmo — ele sorriu, juntando ambas as mãos por cima do balcão, apoiando-as sob o queixo.

— Sobre a morte de seu pai... Sei que pessoas o queriam ver morto — aquela afirmação curiosa ia contra muitos dos pensamentos de Laurent sobre seu pai, era algo que ele não imaginaria e até parecia mentira.

Laurent segura a arma, sem hesitar, e a aponta decididamente para sua própria cabeça. O proprietário do bar não contém um sorriso malicioso diante daquela ousadia. O desafio era aceito, e a cada pergunta de Laurent, ele terá que arriscar um tiro. O rapaz opta por questionar sobre os possíveis suspeitos que desejavam a morte de seu pai. Uma escolha arriscada dadas as circunstâncias.

O barman, mantendo-se silencioso até o momento, responde sem hesitação.

— Conheço pelo menos três... Roldun, Aldley e Grimferd. Um frequentador do bar, um marinheiro e um caçador. No entanto, não acredito que qualquer um deles seja o responsável pelo que aconteceu — ele justifica sua resposta, demonstrando curiosidade em relação a até onde Laurent estava disposto a ir.

Laurent aperta o gatilho mais uma vez. O clique ecoa por toda a sala, os velhos ao fundo resmungavam desanimados com a falta de emoção.

— O responsável pela morte de seu pai? Ele mesmo, ele não era flor que se cheire — o homem responde e sorri levemente, uma resposta incisiva que Laurent provavelmente não esperava. Era o que ele pensava.

A arma é colocada em cima da mesa. O homem sorri sutilmente e agarra a arma. Seu olhar sarcástico estava estampado, conforme ele puxava a arma e guardava ela na gaveta.

— Você é um garoto muito engraçado... Eu nunca disse que precisava atirar na cabeça — e então, guardando também o dinheiro que estava no balcão ele ri um pouco.

— Eu me diverti, de toda forma, fale com o médico dele, verá que não estou mentindo... — e então ele acenou com a cabeça conforme Laurent deixava o estabelecimento — Por conta da casa. —

Aquela não era uma cidade muito grande. Laurent passou por uma via principal, cortando duas avenidas e seguindo por uma escadaria que passava ao lado de quatro bairros diferentes, lá ele chegou na parte alta da vila, onde a casa do médico ficava.

Laurent para diante do edificio. Uma grande casa de dois andares, com um jardim humilde na fachada dianteira. Três degraus de pedra, uma porta de madeira escura. Paredes pintadas, uma janela rústica e sinos sob a telha da entrada.